Bicicleta solidária
Pedal para sentir
Parceria entre Escola Louis Braille e ONG disponibiliza bicicletas adaptadas para o uso de deficientes visuais
Jô Folha -
Para muitas pessoas é apenas um meio de transporte diário ou o lazer dos finais de semana. Mas para a pequena Dóris Andrades, de dez anos, pedalar, mesmo que por alguns instantes, colocou um sorriso no rosto daqueles que surgem ao vencer desafios. Deficiente visual e aluna da Escola Louis Braille, nesta sexta-feira (25) ela foi uma das primeiras a andar em uma das quatro bicicletas adaptadas e se divertiu com a sensação. "Parece até que é automática, vai bem ligeirinho. Gostei muito e quero andar de novo", disse.
A exemplo do que Dóris experimentou, a ideia da parceria entre a escola e a ONG Embrião, de Alvorada, é que cada vez mais pessoas possam pedalar pela primeira vez ou reviver o prazer do vento batendo no rosto em cima de uma bicicleta. Para isso, parceiros se engajaram na ideia. Um deles é o montador Fábio Rosa. Foi dele a missão de construir a estrutura projetada pela ONG, composta de duas bicicletas paralelas em que ambas pedalam, mas apenas uma - a do guia - controla a direção a ser seguida. "O funcionamento é o mesmo de uma comum e não é difícil montar. Tendo as peças, em dois dias ela está pronta", explica.
Batizado de ODKV ("o de cá vê"), o projeto surgiu a partir de uma provocação recebida pela Embrião enquanto realizava ações sociais de ensino de xadrez a deficientes visuais. "Somos uma sociedade muito voltada à natureza e que promove passeios ciclísticos como conscientização ambiental. Sabendo disso, os cegos disseram que gostariam de participar. Então desenvolvemos a ideia", conta o instrutor da ONG, Josué Aguiar. Desde então, a proposta ficou conhecida e chamou atenção de instituições de diversos municípios gaúchos e também de outros estados, como Alagoas, Sergipe e São Paulo.
Para viabilizar as primeiras unidades do veículo adaptado em Pelotas, a Louis Braille recebeu o apoio da Polícia Civil, que doou bicicletas apreendidas e cujos proprietários nunca apareceram para recuperar. "Essa é uma ideia muito importante porque devolve um prazer que para os cegos e também para idosos e pessoas com dificuldades de mobilidade é muito raro. Além de ser um exercício físico, é uma injeção de autoestima", diz o presidente da Louis Braille, Dilmar Rodrigues.
As quatro bicicletas entregues na sexta não ficarão na escola. De acordo com a instituição, elas serão cedidas em comodato e, quando não houver mais interesse dos beneficiários, repassadas a outras pessoas. O objetivo é contar com a ajuda de empresas e da comunidade para obter doações de bicicletas e construir mais unidades adaptadas. Tudo para repetir sorrisos como o de Marília Sanger, 23, que também fez o seu passeio. "Eu já tenho uma bicicleta adaptada e é muito bom poder andar. O pessoal vai gostar", garante.
Confira um vídeo mostrando as bicicletas na nossa página do Facebook
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário